
Vamos tentar suprir essa falta
listando dez fatos surpreendentes sobre o Mundo Antigo que, até mesmo se
tivéssemos estudado a fundo quando éramos estudantes, provavelmente ainda não
conheceríamos.
As civilizações antigas tinham mais relações entre si do que nós imaginávamos
Romanos na China, indianos na
Grécia, africanos na Inglaterra. Não se trata de turismo ou de movimentos
migratórios atuais, e sim uma realidade no Mundo Antigo. Através de uma série
de mecanismos, as pessoas do mundo antigo viajavam muito mais do que nós
poderíamos imaginar. À exceção de uma vaga noção da Rota da Seda, que ligava o
Oriente à Europa, não temos a menor ideia de quão extensas e empreendedoras as
civilizações antigas eram.
Houve, claro, os exploradores
fenícios, que provavelmente circunavegaram a África dois milênios antes de
Vasco de Gama. Os cartagineses exploraram todas as terras ao norte até a
Groenlândia e ao sul até a Serra Leoa, além de terem sido os responsáveis por
difundir a cultura mediterrânica no continente africano.
Graças a Alexandre, o Grande, a
cultura helenística alcançou todas as regiões até o território onde hoje ficam
o Paquistão, a Índia e o Afeganistão. Depois da morte de Alexandre, os seus
generais dividiram as conquistas do macedônio, o que marcou o início de séculos
de transfusão cultural durante os quais cidades inteiras em estilo grego foram
construídas na região de Báctria (hoje Afeganistão). Os reinos indo-gregos e
greco-bactrianos conseguiram unir culturalmente o Ocidente e o Oriente, como
observado em relíquias híbridas como estátuas de Buda vestindo toga e elementos
da arquitetura grega encontrados no Paquistão. Com base em características como
essas, é possível considerar que pelo menos alguns gregos se converteram ao
budismo e misturaram suas crenças com as religiões indianas.
Os romanos também chegaram longe.
Eles possuíam tropas em toda a extensão de seu império, o que incluía lugares
um tanto quanto exóticos e afastados como a Mauritânia (país que fica na costa
noroeste da África), uma terra conhecida por seus cavaleiros. Ao servir no
exército romano, os mauritanos, assim como muitos outros guerreiros de
territórios dominados por Roma, lutavam nos mais diversificados lugares – desde
a Grã-Bretanha até a região da Dácia (no norte dos Bálcãs, atual Romênia,
Moldávia, entre outros países). No entanto, o corpo militar romano não era o
único local onde era possível encontrar essa improvável mistura cultural.
Há evidências da existência de
postos romanos de comércio na região de Kerala, na Índia, já no século I a.C.
Durante o reinado do imperador Nero, exploradores romanos seguiram o curso do
Rio Nilo e, acredita-se, podem ter viajado quase até a fronteira do Sudão do
Sul com a Uganda, no coração da África Central. Porém, o feito possivelmente
mais incrível dos romanos foi alcançado no ano de 166 d.C. Os produtos de
origem chinesa e romana já vinham, durante um bom tempo, sendo comercializados
através de intermediários, provavelmente despertando curiosidade, tanto a leste
quanto a oeste. Em 166 d.C, embaixadores romanos a mando de Marco Aurélio
traçaram a rota que as mercadorias faziam e foram capazes de chegar até a
capital chinesa. Isso praticamente doze séculos antes de Marco Polo.
Indianos antigos já realizavam cirurgias plásticas
Ao contrário do que acontecia com
gregos e romanos, muitos guerreiros na Índia Antiga não usavam capacetes de
proteção no campo de batalha. Dada a natureza das guerras antigas, partes do
rosto dos guerreiros, como orelhas e narizes, tinham uma tendência a ficar
seriamente prejudicadas. Para lidar com esses traumas, os médicos hindus
realizavam procedimentos que não ficavam devendo em praticamente nada em
comparação com técnicas de cirurgia moderna.
Com os ferimentos de guerra, bem
como punições severas para crimes menores levando embora os narizes de muitos
indianos da época, os cirurgiões locais se tornaram hábeis em realizar
procedimentos de rinoplastia. Os médicos especializados cortavam um pedaço de
pele da testa do paciente, o qual era, em seguida, dobrado e implantado em cima
das aberturas nasais para criar o novo nariz. Eram inseridos tubos ocos para
formar as narinas enquanto o paciente se recuperava da operação. Cirurgias
bem-sucedidas no nariz têm sido registradas desde o ano 500 a.C.
Um procedimento mais
horripilante, porém capaz de salvar vidas, era uma forma de sutura que os
cirurgiões indianos empregavam. Costurar uma ferida intestinal ou abdominal era
especialmente complicado naquela época porque o tradicional esquema de agulha
de costura poderia perfurar e danificar ainda mais os órgãos feridos, impedindo
a cura e abrindo espaço para uma infecção. A solução? Formigas bengali.
Elas mordem qualquer coisa que
tocam com mandíbulas que mais parecem grampeadores de escritório. Os cirurgiões
juntavam as partes do órgão danificado e cuidadosamente liberavam as formigas
para morderem a região. Este processo funcionava exatamente como os modernos
grampos cirúrgicos de hoje em dia. O médico, na sequência, cortavam os corpos
das formigas, deixando as mandíbulas no corpo do paciente. No decorrer do
tempo, o sistema imunológico da pessoa lentamente absorveria as mandíbulas, à
medida que fosse se recuperando do ferimento.
Os gregos e os romanos praticam controle de armas
Pode ser difícil de acreditar se
você tiver visto recentemente à sequência do filme “300” ou qualquer outro que possua as batalhas antigas como elemento
principal da trama, mas cidades gregas possuíam um rígido mecanismo de controle
de armas. Apesar da natureza muitas vezes bélica da sociedade grega (ou talvez
justamente por causa por causa dela), o porte de arma era proibido nos espaços
públicos das polis antigas.
Uma máxima era seguida à risca –
pelo menos em tese – pelas autoridades da Grécia Antiga: “As leis governam por si só. Quando as armas governam, elas matam a lei”.
A proibição do porte de armas ajudou a garantir a igualdade em uma sociedade
democrática ou republicana. A possibilidade de pessoas usarem suas armas para a
intimidação era muito grande e prejudicaria a sociedade civil. Se alguém
quisesse estar na cidade, deveria deixar suas armas do lado de fora. O porte de
armas na assembleia pública ou ágora era considerado uma subversão às regras.
Para se ter uma ideia de quão a
sério os gregos levavam o controle sobre o armamento de sua sociedade, o
legislador grego Charondas, de Catania, na Sicília, responsável pela proibição
da posse de armas de sua região, um dia voltou do interior para a cidade sem
remover sua adaga. Ele tinha acabado de retornar de alguns conflitos contra
bandidos na zona rural, mas a lei de Charondas era tão absoluta quanto seu
comprometimento com ela. Tendo violado sua própria lei, Charondas acabou se
suicidando publicamente com a mesma adaga da qual ele se esqueceu de se livrar
ao retornar à cidade.
E, quando em Roma, faça como os…
gregos. Os habitantes da Roma Antiga também eram proibidos de andar com armas
dentro dos limites de sua cidade. Além de uma simples transgressão da lei, o
porte de armas dentro do centro de uma cidade romana, ou seja, dentro dos
pomérios, também era considerado um crime religioso.
Nero instituiu o sistema de combate ao fogo e brigada de incêndio
Isso que é uma má reputação. A
história popular gosta de se lembrar do imperador romano Nero por duas coisas
que ele não fez: por começar e por comemorar um incêndio que destruiu grande
parte da cidade de Roma. Para piorar a situação, isso é basicamente tudo que
nos foi ensinado sobre esta figura histórica – pouquíssimo é comentado sobre os
feitos que Nero efetivamente realizou, como, por exemplo, a implementação de
reformas radicais para proteger a cidade de Roma de futuros incêndios.
Após o famoso incêndio de 64 d.C.
(que Nero não começou), o imperador voltou para Roma de sua casa em Antium e
organizou uma força-tarefa para ajudar os romanos afetados. No entanto, as
verdadeiras inovações de Nero vieram durante a fase de reconstrução da cidade.
Para prevenir futuros incêndios que pudessem causar tantos estragos assim, Nero
implementou uma rigorosa legislação antifogo.
Antes de Nero, Roma era
essencialmente um barril de pólvora no tamanho de uma cidade de grande porte.
As ruas estreitas e os prédios de madeira construídos um em cima do outro
permitiam uma rápida propagação do fogo, a ponto de sair do controle em
instantes. A reconstrução que ocorreu após o Grande Incêndio seguiu as ordens
de Nero: ruas muito mais largas, casas e edifícios construídos com pedra ou
tijolos e limite de altura para as edificações.
Além disso, os aquedutos mais
antigos foram desviados para um melhor fornecimento de água para o consumo da
população para o combate a incêndios. Talvez mais importante de tudo, Nero
formou uma grande brigada de vigias noturnos dedicada a manter a paz e o
combate a incêndios. Graças aos planos do imperador, o desenvolvimento urbano
de Roma tornou-se muito mais disciplinado e cuidadosamente planejado do que era
antes.
A república como modelo de governo não foi inventada apenas em Roma
Roma? República. Grécia?
Democracia. Índia? Bem… Alguém sabe? Isso só comprova o fato de que a maioria
de nós não recebeu muita educação em relação às estruturas governamentais da
Índia Antiga. Enquanto a Índia Antiga certamente teve seu quinhão de déspotas,
a região foi também o lar de um grande número de pequenas repúblicas.
Uma quantidade significativa de
cidades indianas abraçou os ideais republicanos, como a representação política
e a tomada de decisão coletiva, mais ou menos ao mesmo tempo em que a mais
famosa república de Roma foi fundada. De acordo com o que se sabe hoje em dia,
porém, os princípios republicanos de Roma e da Índia foram desenvolvidos de
forma independente. Os primeiros registros de governo de estilo republicano na
Índia datam de algum momento entre os anos 600 e 480 a.C.
Apesar dos tamanhos reduzidos,
algumas repúblicas indianas conseguiram até mesmo sobreviver ao contato com
Alexandre, o Grande, no século IV a.C, e às tentativas de conquista posteriores
do conhecido Império Gupta, que dominou o subcontinente indiano entre
aproximadamente os anos de 550 e 320 a.C. Mesmo tendo enfrentado dois dos
maiores conquistadores da antiguidade, as repúblicas da Índia foram capazes de
manter seu caráter de governo relativamente intocado até que a subversão e a
desunião internas fez o que Alexander e Chandragupta não conseguiram: dar um
fim às repúblicas.
Ao invés de força das armas, os
reis vizinhos utilizaram táticas mais sutis como espiões e propaganda para
fomentar a desordem entre os rivais republicanos. Como se confirmou na
sequência, esse foi um plano muito bem bolado, dada a natureza já um tanto
turbulenta das repúblicas. Divididas, as assembleias que regiam o sistema
desmoronaram. Enquanto isso, facções rivais afirmavam o poder através de
guerras civis e alianças com poderes externos, que, eventualmente, conseguiram
dominar a região.
Em Roma, a sexualidade não era progressiva e a homossexualidade não era
aceita
A licença sexual que de fato
existia na sociedade romana antiga certamente não se estendia a qualquer coisa
semelhante à homossexualidade moderna. Perguntar a opinião de um habitante da
Roma Antiga sobre a homossexualidade seria como lhe pedir para se posicionar
sobre a internet. O romano hipotético não teria o que falar em ambos os casos
porque nenhum deles existia na Roma Antiga.
A sexualidade romana não era
caracterizada por gênero, e sim determinada pelo “papel” que a pessoa
desempenharia. Para um homem, o papel de ativo, penetrador, era geralmente
aceitável, independentemente do sexo da pessoa penetrada. Ser passivo era
considerado uma aberração para os homens (parece-lhe um discurso conhecido?),
independentemente do gênero do seu parceiro. Como resultado, era perfeitamente
possível para um homem e uma mulher cometer um ato “monstruoso” juntos.
O sexo oral realizado na mulher é
uma excelente ilustração da mentalidade romana da época. Embora hoje muitos
possam argumentar que o ato de cunilíngua está longe de ser considerado passivo
por parte do homem, os romanos viam as coisas de uma forma diferente. Eles
acreditavam que, em tal ato, a mulher estava simplesmente usando a boca do seu
parceiro sexual para o prazer próprio, o que era considerado o fracasso da
masculinidade. O sexo oral feito no homem (ou felação) era visto da mesma
maneira. Um homem fazendo sexo oral em outra pessoa estava “sendo usado”. Isso
era considerado uma desgraça, independentemente do gênero do seu parceiro
sexual.
Em outras palavras, a
sexualidade, para os romanos antigos, estava longe de ser progressiva. A
dicotomia ativo-passivo criou uma sexualidade altamente restritiva. As mulheres
só poderiam ser penetradas enquanto os homens só poderiam ser penetradores.
Praticamente qualquer outro ato sexual que fugisse dessa lógica era proibido.
Além disso, enquanto era natural um homem querer penetrar qualquer coisa que se
movesse, ele seria considerado anormal, pervertido e afeminado se quisesse dar
prazer à sua esposa.
As últimas palavras de Julius César
Muitos acreditam que, prestes a
morrer devido à ação de seus assassinos, Júlio César tenha pronunciado as
famosas palavras: “Et tu, Brute?” (“Até tu, Brutus?”). Mas a verdade é que o
controverso ditador de Roma jamais disse existe tal coisa. William Shakespeare
inventou a fala para que a sua versão fictícia de Júlio César a recitasse.
Entretanto, até mesmo na peça de Shakespeare, “Até tu, Brutus?” não é a última fala de Júlio César (e sim “Então caia, César”).
Mas e quanto ao personagem real e
histórico de César? Ele era, de fato, de classe alta e tinha tido uma educação
formal. Na Roma Antiga, isso significava que Júlio César provavelmente se
comunicava em grego – e não em latim, como insinua a famosa frase. Na
realidade, Júlio César não estava muito familiarizado com o latim.
O único escritor antigo que
menciona quaisquer últimas palavras do imperador nem mesmo era contemporâneo de
Júlio César. Ele sugere que a vida do político romano terminou com um suspiro
em grego dirigido a Brutus: “Kai su
teknon”, uma frase de difícil tradução, mas cuja versão mais aceita
significa “até você, meu filho?”. As
fontes são confusas porque, afinal, trata-se de uma fofoca de dois mil anos de
idade, mas alguns rumores diziam que Brutus era filho bastardo de César (outros
o consideram filho adotivo), enquanto outros ainda se referem a eles apenas
como amigos.
Alguns historiadores afirmam que
a frase, na realidade, nem se refere a Brutus, mas sim a todos que conspiraram
contra ele e planejaram sua morte. Neste caso, a tradução da frase viraria uma
espécie de ameaça e seria algo mais próximo a “Vocês serão os próximos, crianças”. Uma alternativa, embora menos
poética, conta que César teria puxado sua toga sobre a cabeça enquanto seus
agressores o esfaqueavam até a morte.
Os “povos bárbaros” eram simplesmente pessoas que não falavam grego
Apenas o pensamento de “povos
bárbaros” já traz à mente seres violentos e figuras terríveis tanto reais (como
Átila, o rei dos hunos) quanto fictícios (como Conan, o bárbaro). No entanto,
não era preciso matar pessoas inocentes ou destruir cidades inteiras para
receber esse título. Isso porque, para os gregos antigos, “bárbaros” eram
simplesmente os indivíduos que não falavam grego. Eles consideravam que o modo
como os estrangeiros conversavam entre si se assemelhava a um balbuciar
(“bar-bar-bar”) e apelidaram quem viesse de fora de “barbaroi”.
Na Grécia antiga, o termo não tem
a conotação que carrega hoje (ou seja, de seres brutos e não civilizados). Os
gregos não eram nacionalistas ao extremo a ponto de ignorar as glórias de
outras civilizações, como a egípcia, a persa etc. Essas civilizações eram
reconhecidas como magníficas, mas os seus habitantes de língua não grega ainda
assim eram chamados de “bárbaros”. Os antigos romanos usavam o termo “bárbaro”
da mesma maneira que os gregos. Aqueles que não viviam dentro do Império Romano
e que fossem incapazes de falar latim eram chamados de bárbaros. Foi apenas no
momento histórico em que a Antiguidade passou a dar lugar à Idade Média que o
rótulo de “bárbaro” começou a assumir o seu significado pejorativo de selvageria,
que mantém até hoje.
A religião cristã ocidental usava
o termo para denominar todos os indivíduos que não se encontravam dentro de
seus limites – ou seja, de eslavos a árabes, todos eram considerados bárbaros.
Aqueles que não correspondiam ao padrão da cristandade eram “grosseiros” e
“incultos”. O escritor francês Michel de Montaigne resumiu bem o significado
histórico da palavra quando escreveu: “cada homem chama ‘barbárie’ aquilo que
não é a sua própria prática”.
Os romanos não inventaram a crucificação
Embora as narrativas que contam a
paixão de Cristo tenham contribuído para fazer com que a execução por
crucificação seja sinônimo de Roma Antiga em muitas mentes, a prática provavelmente
se originou na Pérsia por volta do ano 500 a.C. A partir daí, a punição extrema
se espalhou para terras mais distantes como a Índia, o Egito, Cartago, a
Macedônia, algumas terras celtas, assim como para Roma, entre outras regiões.
Pelo menos uma passagem do Velho
Testamento bíblico sugere que os judeus da época já empregavam uma punição
semelhante. Alexandre, o Grande, também havia mostrado a popularidade do ato ao
invadir a cidade de Tiro e crucificar dois mil de seus habitantes homens
adultos, no século IV a.C. Na verdade, eram os cartagineses que talvez fizeram
o uso mais extensivo da crucificação, e é provável que tenha sido a partir
deles que os romanos adotaram a prática. Ao contrário de Cartago, que
ocasionalmente crucificava seus próprios generais caso perdessem uma batalha,
Roma não costumava crucificar seus próprios cidadãos.
Considerada a mais extrema
sentenças de morte, a execução por crucificação era uma punição longa, cruel e
dolorosa que os governantes do Império Romano reservavam para os seus piores
criminosos, como Spartacus e seus companheiros rebeldes (além de, claro,
Jesus). Os romanos, que viviam sempre com medo de revoltas de escravos devido à
ampla utilização de tal forma de trabalho, responderam à revolta liderada por
Spartacus com uma das maiores crucificações em massa da história. Na ocasião,
aproximadamente seis mil escravos rebeldes foram mortos na cruz ao longo da
estrada de Roma a Cápua no ano de 71 a.C.
Embora a crucificação fosse
considerada demasiadamente abominável para ser usada contra os próprios
cidadãos romanos, a prática não foi oficialmente abolida dentro do império até
438 d.C.
A queda de Roma não acabou com o Império Romano
Aprendemos na escola que, ao
menos teoricamente, a dominação romana terminou em 476 d.C, quando a cidade
caiu e foi tomada por invasores hérulos, um povo germânico do sul da
Escandinávia. No entanto, o novo saque a Roma nem foi um incidente tão
significativo assim. A então capital do império, Constantinopla, há muito tempo
já havia superado Roma em questão de riqueza, população e importância.
Na época de sua “queda”, a
importância de Roma já tinha até sido suplantada, a oeste, pela cidade de
Ravenna, a capital do Império do Ocidente. Outra razão pela qual a queda de
Roma não foi tão catastrófica como se imaginava foi o general Flávio Odoacro,
rei da tribo germânica dos hérulos, que depôs o último imperador romano do
Ocidente. O militar bárbaro não queria, na realidade, mudar muito as coisas,
ele só queria estar no comando. Odoacro fez questão de reconhecer o verdadeiro
imperador em Constantinopla e manter o status quo.
Para um habitante qualquer de
Roma, a vida continuou como de costume durante décadas após o fim do reinado do
último imperador de Roma. Isso porque as tribos germânicas que passaram a governar
a região já haviam feito parte do Império Romano como Estado-cliente – cuja
população correspondia a uma considerável parte do contingente militar romano e
era considerada “quase cidadãos”. Quando uma coalizão de bárbaros e romanos
finalmente derrotou os hunos em 451, foi incrivelmente difícil dizer qual parte
dos soldados era composta de romanos e quem dali era bárbaro.
O que de fato sacramentou o fim
do Império Romano não foram as invasões estrangeiras, mas sim uma série de
guerras civis que assolaram suas fronteira. O exército romano, com seu
armamento, suas vestimentas e seus generais bárbaros, começou a lutar contra si
mesmo cada vez mais, reduzindo o Império do Ocidente a incontáveis reinos
rebeldes com apenas uma frágil união sob o comando de um punhado de senhores da
guerra.
Independentemente do declínio do
Império Romano do Ocidente, o do Oriente sobreviveu por mais mil anos,
governando até grandes porções de terra hoje pertencentes à Itália em vários
momentos durante esse tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário