14 de janeiro de 2016

Tumba etrusca intacta é descoberta na Itália

Uma tumba etrusca intacta, com dois sarcófagos, artefatos fúnebres e uma misteriosa peça de mármore, foi recentemente descoberta na região italiana da Úmbria, naquela que promete ser uma das revelações arqueológicas mais importantes da recente história europeia.

Datada do final do século IV a.C., a tumba foi originalmente encontrada por um agricultor que trabalhava com seu arado em um campo nos arredores de Città della Pieve, um pequeno povoado a 50 quilômetros ao sul de Perugia. Clarita Natalini, da superintendência arqueológica de Úmbria, expôs o caráter único do contexto: "Foi uma descoberta absolutamente inesperada. A área é conhecida por ser alvo constante de ladrões de túmulos, e de alguma forma os jazigos etruscos não foram afetados pelo costume criminoso da região”.

Segundo Natalini, encontrar uma tumba etrusca em perfeito estado é um evento cientificamente raríssimo, sem precedentes, com potencial de revelar muito mais do que já se sabe a respeito de uma das culturas mais fascinantes e misteriosas do mundo antigo.
 
Os etruscos são conhecidos por terem sido um povo agitado e eclético, que, entre outras coisas, ensinou o francês a fazer vinho, o romano a construir estradas e introduziu a arte da escrita em muitos outros países europeus. A cultura etrusca começou a florescer por volta de 900 a.C., e dominou grande parte da Itália por mais de cinco séculos. Ao longo do século V a.C., depois se firmar como referência em Arte, agricultura, metalurgia e comércio, ela começou a perder forças e espaço para a contínua expansão romana no continente. Por fim, entre os anos de 300 e 100 a.C., os etruscos foram politicamente “absorvidos” pelo Império Romano.
 
Essa assimilação cultural trouxe muitos problemas para os historiadores. Como a Literatura etrusca essencialmente se baseava em uma língua estranha para a maior parte dos europeus, os romanos se encarregaram de praticamente extingui-la. Sem registros próprios, o povo etrusco tornou-se uma grande incógnita da Antiguidade. Muito do que sabemos sobre ele, portanto, vem de seus cemitérios. Suas sepulturas e mausoléus, ricamente decorados, forneceram pistas imprescindíveis para a reconstrução de sua história. Dito isso, a tumba de Città della Pieve parece mais do que promissora.
 
Clarita Natalini e sua equipe de pesquisadores a descreveram em detalhes. Trata-se de uma pequena câmara retangular, com cerca de seis metros quadrados, perfeitamente selada por uma porta dupla feita de pedra pesada. Um dos sarcófagos, também feito de pedra, está talhado com uma longa inscrição. Embora a tradução dessa mensagem ainda esteja em curso, os arqueólogos foram capazes de identificar a palavra "Laris". “Laris” ou “Lars” era um nome muito comum na sociedade etrusca, comumente atribuídos a homens. É extremamente provável que a sepultura contenha o esqueleto de um indivíduo do sexo masculino.
 
O outro sarcófago, selado e coberto com gesso pintado, também possui uma inscrição. "Um colapso de terra, que provavelmente aconteceu na Antiguidade ou na Idade Média, infelizmente danificou parte do gesso. A inscrição do túmulo está partida em centenas de pequenos fragmentos, e nosso maior trabalho será uni-los em uma peça coesa", explicou Natalini. Apesar dos danos, estima-se que a sepultura tenha cerca de 2300 anos, e que pese mais de três toneladas.
 
A estranha peça de mármore entre os dois túmulos, esculpida no formato de uma cabeça humana, também despertou a curiosidade dos pesquisadores: "Ela retrata o rosto de uma bela jovem. Nós ainda não compreendemos a sua função na tumba. Como o artefato apresenta sinais de lascamento na região do pescoço, é possível que a cabeça originalmente pertencesse a uma estátua maior, especificamente esculpida para honrar a memória dos mortos", disse Natalini.
 
Além de outros artefatos fúnebres, como pequenos vasos e dois jarros de cerâmica - comumente usados para armazenar alimentos para a vida após a morte -, os arqueólogos também encontraram quatro urnas crematórias. Feitas a partir do mesmo mármore do busto, três delas são ricamente detalhadas. Suas tampas retratam os falecidos seminus, com colares de flores e deitados sobre almofadas enquanto aparentemente esperam por um banquete. A cena e a escolha do mármore para a confecção destes itens sugerem que a tumba pertença a uma família aristocrática da fortaleza etrusca de Chiusi, também nos arredores de Città della Pieve.
 
"Faremos o possível para exibir todos estes preciosos itens ao público em um futuro muito próximo", disse Carmine Pugliese, do Departamento de Cultura da região. Um dos sarcófagos e alguns dos outros artefatos fúnebres já foram transferidos para o Museu de Città della Pieve, e em breve passarão por restaurações e estudos mais aprofundados.

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