
Um soldado servindo em um
exército estrangeiro, com saudade da mãe, da irmã e do irmão, escreve inúmeras
cartas, mas não recebe respostas. “Eu não
paro de pensar em vocês, mas vocês não pensam em mim. Eu faço minha parte
escrevendo para vocês sempre e não deixo de ter vocês na minha mente, e no meu
coração. Mas vocês nunca me escrevem contando sobre sua saúde, como estão indo”,
lamenta o rapaz, para mais tarde afirmar: “Eu
já mandei seis cartas”.
No resto do papel, ele conta como
sente saudade de todos, como está sempre pensando neles, e que quando eles
receberem a carta, ele provavelmente já terá obtido uma licença para visitar a
família. Parece uma carta como qualquer
outra, e poderia ter sido escrita mês passado por algum soldado no estrangeiro,
só que foi encontrada em 1899 pela equipe de Grenfell e Hunt, dois egiptólogos
famosos em sua época, na cidade egípcia de Tebtunis.
Ela foi catalogada e arquivada,
mas como estava em péssimo estado, não foi decifrada até 2011, quando o aluno
de graduação Grant Adamson, do curso de Estudos Religiosos da Universidade Rice
(EUA), começou a decifrar o antigo papiro. “Polion
era alfabetizado, o que era mais raro do que hoje, mas sua caligrafia,
ortografia e gramática grega é pobre”, conta Adamson. “Ele provavelmente falava várias línguas, e se comunicava em egípcio ou
grego em casa, e depois em latim quando no exército em Pannonia”.
A partir do conteúdo da carta,
sabemos que foi escrita pelo soldado Aurelius Polion, que provavelmente estava
posicionado na província romana da Panônia Inferior, em Aquincum (atual
Budapeste) e, como foi encontrada no Egito, provavelmente chegou ao seu
destinatário.
O nome do soldado, Aurelios,
sugere que ele nasceu no ano 212, quando a cidadania romana foi concedida a
muitas pessoas. Outra dica é que ele se refere a um “comandante consular”, o que sugere uma data após o ano 214, quando
a província da Panônia inferior passou a ser governada por um cônsul.
No vídeo abaixo (em Inglês), feito pela Universidade
Rice, dá para ter uma ideia do trabalho que foi decifrar a carta que, além de
ter sido escrita por um soldado que não era exatamente um literato, também está
em condições péssimas, com muitos trechos faltando. Mesmo depois de ter
traduzido um bom tanto do texto, ficaram certas porções cujo conteúdo é incerto
e impossível de reconstruir.
Lindo trabalho. Apesar das limitações ele é de grande contribuição para a humanidade. É bom saber que afeto e relações familiares já tinham seu peso naquela época.
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