A Saga de Egil Skallagrimsson narra a trajetória de um guerreiro viking
do século X, que tomou parte em ataques na Europa e, não raramente, enfrentou
seus próprios vizinhos na Islândia. Quando sua história de vida foi escrita no
século XIII, estaria o autor interessado em usar o personagem como exemplo do
tipo de homem com o qual a sociedade tinha que se preocupar?
Wills Tarrin, pesquisador da
Universidade de Aberdeen, acredita que as próprias sociedades vikings estavam
profundamente preocupadas com estes indivíduos violentos e imprevisíveis – fato
confirmado por terem assumido o pioneirismo na elaboração dos primeiros perfis
criminais da História.
Depois de examinar as sagas
islandesas, Wills acredita que seus autores identificaram características
físicas que denunciavam altos níveis de testosterona, conhecidos por estimular
comportamentos violentos, e criaram alguns dos primeiros "retratos
policiais" da Europa.
"Segui essa pista, revisando a literatura científica concernente às
características fisiológicas e comportamentais ligadas à testosterona",
disse Wills. "Os perfis pareciam
descrever padrões com os quais eu me familiarizei através de textos islandeses
do século XIII, o que me estimulou a pesquisar com mais atenção. A maior parte
de nosso conhecimento sobre a cultura Viking foi inicialmente escrita na
Islândia, e seus autores estavam plenamente conscientes dos reveses da
testosterona”.
"Eles descrevem guerreiros lendários, como Egil, que cometeu seu
primeiro homicídio com apenas seis anos. Em termos físicos, Egil tinha uma
testa larga, grossas sobrancelhas, uma barba espessa e sinais de calvície,
indicativos de elevados níveis de testosterona. Esse tipo de descrição era
absolutamente incomum para o período, e as sagas normalmente restringiam-se a
qualificações de riqueza e status – importantes para a trama".
Wills disse que a pesquisa ainda
aponta que os vikings desenvolveram seus próprios entendimentos de como a
fisiologia e o comportamento interagem, e que eles usaram esse conhecimento
para identificar indivíduos potencialmente “problemáticos”.
"A Islândia dos Vikings foi semelhante ao Oeste Selvagem - um território
aberto, competitivo e violento, com muitos homens jovens tentando adquirir
terras, uma esposa e família. Os vikings tinham um sofisticado sistema legal,
mas na Islândia eles não tiveram formas de aplicá-lo", disse Wills.
Muitas das sagas dizem respeito
ao século X, mas não foram escritas até o século XIII, quando a violência se
intensificou ainda mais. Muitos de seus autores são desconhecidos, mas
acredita-se que os textos tenham sido escritos por ricos proprietários de
terras, ou em nome deles. Eram pessoas com motivos especiais para se
preocuparem com o comportamento alheio, ansiando em proteger seu próprio
território.
Wills acrescenta: "O que pode ser notado através de um exame
apurado da literatura é que aqueles que redigiram as sagas obviamente
perceberam que certas características físicas eram significativas. E os autores
foram sensíveis não só ao comportamento antissocial – tudo foi levando em
consideração, de meros insultos a homicídios brutais -, o que garantiu um
‘ajuste fino’ na compreensão das relações biológicas e comportamentais”.
Da Saga de Egil
“... Egil foi um homem grande, com uma testa larga, sobrancelhas
espessas, um nariz curto e muito grosso, lábios longos e carnudos, um queixo
amplíssimo em consonância com as mandíbulas; era um homem de pescoço firme e
ombros largos, de temperamento duro e sombrio quando irritado. Era de boa
estatura, mais alto do que o normal, com um cabelo lobo-cinzento e espesso, mas
que cedo apresentou indícios de calvície. Egil tinha olhos negros e uma pele
parda...”.
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