23 de junho de 2015

Trepanação, uma "solução" para problemas mentais na Antiguidade

Como todas os setores da medicina, a neurociência evoluiu bastante. Enquanto hoje temos procedimentos sofisticados de cirurgia cerebral (que permitiram até que um brasileiro tocasse violão enquanto passava por um procedimento), no passado as coisas eram bem diferentes. Um exemplo é a trepanação.

E o que vem a ser isso? Explicamos: é a abertura de um ou mais buracos no crânio. Seu registro mais antigo data de oito mil anos, se tornando o mais velho procedimento cirúrgico conhecido - e, incrivelmente, a técnica era usada por várias culturas antigas, desde civilizações pré-colombianas até as primeiras civilizações europeias. Sabemos disso porque vários crânios perfurados foram recuperados em sítios arqueológicos ao redor do mundo - e, como você pode ver pela imagem acima, a perfuração da trepanação é bem diferente da causada por outros traumas cranianos.

Acredita-se que a cirurgia era considerada a solução para vários tipos de doenças. Além de ser usada para “tratar” ferimentos cranianos e doenças mentais, arqueólogos sugerem que a trepanação poderia ter propósitos religiosos - como o exorcismo.

Para fazer a perfuração, eram usadas pedras pontudas e lâminas de obsidiana (nos primeiros registros). Depois, quando humanos aprenderam a manipular metais, na era do bronze, bisturis e serras primitivas foram usados. Algumas culturas até desenvolveram técnicas para fazer a cirurgia com vidro!

No entanto, foi só em 400 a.C. que o grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, escreveu um tratado sobre o cérebro e revelou mais detalhes sobre a trepanação.

De acordo com o neurocirurgião Graham Martin, em uma publicação no Journal of Clinical Neuroscience, Hipócrates nunca havia feito uma trepanação, mas havia aprendido sobre a técnica em uma viagem para Marselha, onde o procedimento já era feito há 1500 anos. Ele compreendeu que a técnica era usada para aliviar a pressão no cérebro causada por sangue, "demônios", ou qualquer que fosse o diagnóstico do médico.

Na civilização pré-colombiana dos zapotecas, no entanto, temos uma situação bem diferente: a trepanação era usada várias vezes - foram encontrados vários crânios com múltiplas perfurações. Acredita-se que era um tratamento popular para dores de cabeça. Mas tudo isso é especulação - não se sabe, por exemplo, se o procedimento era feito em voluntários. Afinal, ele não deveria ser nada agradável.

No século XV, a trepanação foi mais documentada, inclusive por pintores renascentistas - quadros mostravam que a cirurgia era usada para curar, de forma sobrenatural, problemas mentais. Um deles era chamado de “pedra da loucura”. A tal pedra precisava ser retirada do cérebro do doente antes que 'contaminasse' o cérebro inteiro - e uma cena dessas foi retratada por Hieronymus Bosch no quadro "A extração da pedra da loucura".

Como sabemos, o campo da neurocirurgia avançou muito desde então, mas uma versão da trepanação ainda é usada na nossa medicina em alguns casos, com um nome diferente e com técnicas mais avançadas. Chamada de craniotomia, é um tratamento emergencial para frear hemorragias cerebrais.

Fontes: 01 e 02.

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