Muitos livros, seriados, filmes e jogos são
inspirados na História Medieval, e é tentador pensar que eles representam
aspectos reais da vida em tempos passados. Não é o caso. Muitas vezes, eles
apenas reforçam mitos e equívocos.
Romances de fantasia certamente não precisam ser
historicamente precisos, mas quando tantos são tão equivocados, as pessoas
podem ficar com uma impressão errada de que sabem sobre o cotidiano dos homens
e das mulheres medievais.
Conheça oito dos enganos mais comuns sobre essa
época:
1) Os
camponeses eram uma única classe de pessoas mais ou menos iguais entre si
É fácil pensar que as pessoas na Idade Média eram
divididas apenas em grandes classes: reais, nobres, cavaleiros, clérigos e
camponeses. Não é bem assim. Há vastas classes de pessoas que, hoje, podemos chamar
de “camponeses”.
Ian Mortimer, autor do livro “The Time Traveler’s Guide to Medieval England”, aponta que na
Inglaterra do século XIV existiam “vilões”, pessoas ligadas à terra de um
determinado senhor. Vilões não eram considerados livres, e podiam ser vendidos
ou “alugados” com a terra do senhor. Aliás, o povo livre em si também pertencia
a uma vasta variedade de classes sociais e econômicas. Alguns podiam se tornar
bem sucedidos o suficiente para alugar a mansão de um senhor, essencialmente
agindo eles mesmos como senhores. Outros podiam deter grande parte do poder
político, atendendo todos os oficiais locais. Podemos pensar nessas pessoas
como “camponeses”, mas elas certamente não eram iguais entre si.
2) Pousadas
eram casas públicas com grandes salões comuns e quartos individuais
Há poucas imagens tão firmemente enraizadas na
fantasia pseudomedieval quanto a da taberna/pousada. Você supostamente podia ir
a uma delas, desfrutar de alguns garrafões de cerveja na sala comum, ouvir
todas as fofocas locais e depois ir até seu quarto – alugado e privado –, onde
dormiria sozinho ou com um amante.
Essa imagem não é totalmente enganosa, mas a
verdade é um pouco mais complicada. Na Inglaterra medieval, se você combinasse
uma pousada com uma cervejaria, você provavelmente teria algo parecido com a
fantasia acima – mas também precisaria pagar impostos escandalosos sobre o
serviço. Havia estalagens onde era possível alugar uma cama (não um quarto), e
que também possuíam salões comunais para refeições. Nelas, você provavelmente encontraria
um único aposento com várias camas, suficientemente grandes para o sono de até
três pessoas. Somente nas pousadas mais luxuosas seria possível encontrar
quartos com colchões individuais.
3) A realeza
tinha péssimas maneiras à mesa
Mesmo na Idade Média, os membros de estratos mais
elevados da sociedade seguiam uma determinada etiqueta, e essas normas
certamente envolviam boas maneiras à mesa. Na verdade, dependendo das
circunstâncias e da influência envolvida, as regras eram tão exigentes que seu
descumprimento poderia resultar em multas e punições físicas.
4) As
pessoas desconfiavam de todas as formas de magia
Na maioria dos casos das histórias medievais, a
magia é tratada com desconfiança. Mas nem todas as circunstâncias de magia na
Idade Média eram tratadas como heresia.
No livro “Misconceptions
About the Middle Ages”, Anita Obermeier explica que, durante o século X, a
Igreja Católica não estava interessada em julgar bruxas por heresia; estava
mais interessada em erradicar superstições heréticas sobre “criaturas demoníacas”.
E, no século XIV, era possível consultar um “mago” ou uma “bruxa” para resolver
pequenos problemas, como encontrar um objeto perdido ou conquistar a atenção da
pessoa amada.
No geral, a Inglaterra medieval era extremamente
tolerante com o exercício da magia, desde que não houvesse ofensas diretas à
estrutura básica do Cristianismo. Contudo, o final do século XV sustentou a
origem da Inquisição Espanhola, e aí sim as bruxas começaram a ser caçadas por
toda a Europa.
As fogueiras inquisitórias não eram raras, mas
também não eram corriqueiras. Obermeier explica que, ao longo do século XI, a
feitiçaria foi tratada como um crime secular, mas a Igreja não costumava puni-la
com o fogo. Essa punição tornou-se um pouco mais comum no século XIII, mas
apenas para os hereges recorrentes.
5) As roupas
eram sempre práticas e funcionais
Homens e mulheres medievais de várias classes
sociais tinham profundo interesse na moda. Em alguns casos, em uma moda tão
absurda quanto a que povoa as passarelas dos desfiles mais excêntricos da atualidade.
Durante o século XIV, os homens ingleses vestiam peças bastante elaboradas e
experimentais. Espartilhos e ligas eram comuns para o sexo masculino, já que a
forma de seus quadris e pernas também evidenciava sua força. Alguns nobres
usavam vestidos com mangas tão longas que era possível tropeçar nelas. Sapatos
com bicos extraordinariamente longos, de até cinquenta centímetros, também eram
populares.
É importante notar que a moda era hierárquica,
passando da realeza à aristocracia em eventualmente, até o povo comum. Nas
estações seguintes, tão logo um conjunto de roupas se difundia entre os nobres,
uma versão menos cara e elaborada aparecia entre os homens e mulheres mais
pobres. De fato, existiam leis em Londres que impediam as pessoas de se vestirem
acima de suas classes, sob pena de confisco e prisão.
6) Servos
eram indivíduos de classe baixa
Se você fosse um indivíduo de alto escalão, você
provavelmente teria um servo de alto escalão. Um senhor podia enviar seu filho
para que ele servisse a outro senhor – talvez na mansão do irmão de sua esposa,
por exemplo. O filho não receberia nada, mas ainda assim seria tratado como parente
de um lorde. O mordomo de um senhor podia ser ele mesmo um senhor. O status de alguém na sociedade não vinha
apenas do fato de ser ou não um servo, mas também de sua condição familiar, de
quem ele servia e de qual trabalho desempenhava.
Nas famílias inglesas do final do século XV, mesmo
nas encabeçadas pelo sexo feminino, os servos eram quase predominantemente
masculinos – e com algum grau de elevação social. Em seu livro, Ian Mortimer apresenta
o Conde da casa de Devon, que tinha quase cento e cinquenta servos, e apenas
três mulheres entre eles.
7) A Medicina
era baseada em pura superstição
A cura medieval muitas vezes vinha dos deuses, boa
parte do diagnóstico envolvia Astrologia e teoria humoral, a sangria era um método
respeitado de tratamento e muitos dos curativos não eram apenas inúteis – eram
francamente perigosos.
Ainda assim, alguns aspectos da Medicina medieval
eram lógicos, mesmo para os padrões modernos. Envolver pacientes de varíola em
pano de carmesim, o tratamento da gota com plantas do gênero Colchicum e o uso do óleo de camomila
para dor de ouvido, por exemplo, eram tratamentos consideravelmente eficazes.
E, enquanto a noção de um cirurgião-barbeiro é horrível para muitos de nós,
alguns desses profissionais eram realmente talentosos. Muitos barbeiros já
empregavam anestésicos em suas práticas, e eram particularmente reconhecidos pela
eficácia no tratamento de abscessos e pelo desenvolvimento da Ortopedia.
8) Na cama, as
mulheres eram meros instrumentos de prazer dos homens
É fato que a mulher não tinha exatamente um papel
elevado na Idade Média, mas isso não significa que sua intimidade era
completamente ignorada. Por exigência das mulheres, o estupro tornou-se um
crime passivo de morte na Inglaterra do século XIV; Inúmeros textos medievais
apresentam o sexo feminino como um gênero muito mais lascivo do que o masculino;
A esposa era legalmente obrigada a jamais recusar os avanços sexuais de seu
marido, mas a volta era rigidamente cobrada – dentro do casamento, a Igreja
chegou a recomendar que o sexo fosse periódico, pois uma mulher sem prazer era
uma mulher perigosa e/ou mais aberta a doenças psicológicas.
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