Clérigos medievais não
concordavam com a perspectiva de abrir mão dos prazeres carnais quando o papado
tentou introduzir o princípio do celibato. A resistência foi generalizada,
segundo uma pesquisa acadêmica da Universidade de Huddersfield, onde duas historiadoras
estão desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento do estudo da
masculinidade medieval.
Pat Cullum e Katherine Lewis
organizaram uma conferência internacional intitulada “Homens religiosos na Idade Média". Abordando temas como “bispos medievais”, “peregrinação”, “ordens
monásticas” e “perspectivas
religiosas dos leigos”, ela contou com a presença de cinquenta
representantes de quatorze países, incluindo Estados Unidos, Finlândia, China,
Itália e Chipre.
"Uma das coisas que queríamos fazer neste momento era levar os
acadêmicos a pensarem além da cristandade católica, e por isso investimos em artigos
sobre ortodoxia, masculinidade judaica e em comparações entre São Francisco de
Assis e Buda", disse Cullum.
O celibato clerical foi o tema da
palestra de Jennifer Thibodeaux, professora associada de História pela
Universidade de Wisconsin-Whitewater. Ela apresentou um artigo intitulado
"O discurso do casamento clerical:
masculinidade e sexualidade nos escritos clericais dos normandos”. Segundo
o artigo, foi no século X que o Papado e a Igreja começaram a sugerir que os
padres deveriam ser celibatários, dois séculos antes da ideia ser
consideravelmente acatada. "Havia
uma série de justificativas. Por exemplo, a de que um sacerdote deveria
espelhar-se em Cristo - que era celibatário -, e de que não poderia manipular
os sacramentos enquanto estivesse corrompido pela atividade sexual",
explicou a Dra. Cullum.
"Houve também um argumento prático, pouco difundido, de que a Igreja
pretendia manter o controle de sua propriedade a qualquer custo, e se os padres
eventualmente casassem e tivessem filhos, seriam tentados a passar a
propriedade eclesiástica para suas famílias".
Como a resistência
consideravelmente grande dos clérigos ao celibato foi um dos temas mais
polêmicos da recente conferência, Cullum e Lewis já anunciaram a formação de
uma rede chamada "O Olho do Bispo",
continuidade de um programa que desenvolveram há doze anos. Lewis explicou:
"Esta rede irá promover novas
pesquisas sobre as vidas, experiências e representações de homens religiosos
medievais, tanto daqueles que seguiam uma vocação profissional - bispos, monges
e padres, por exemplo – como de leigos. Esperamos reunir acadêmicos de História
Medieval nos mais diversos campos, empregando uma série de abordagens
conceituais".
Pretende-se que as conferências
sob a égide do “Olho do Bispo” sejam bienais,
incluindo publicações das palestras e artigos nelas apresentados. Além disso,
espera-se atrair novos bolsistas para o campo. A Universidade de Huddersfield
recentemente anunciou que oferecerá duas bolsas integrais de Doutorado para
candidatos que se adequem aos pré-requisitos do programa.
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