O que nos inspira a contar
histórias de monstros e heróis míticos? É tudo um simples produto da imaginação
humana, ou a máxima “toda mentira tem um
fundo de verdade” vale para essas narrativas? Vamos além de mitos e da
História para descobrir qual das famosas lendas humanas são verdadeiras,
míticas, ou em algum lugar entre as duas opções.
Gilgamesh: A Epopeia de
Gilgamesh, gravada em doze tabletes de argila, é um dos mais antigos
trabalhos literários que conhecemos. Ela veio do conto de Gilgamesh, rei de
Uruk, que diz que ele deixou tudo para trás para se aventurar e caçar monstros.
Quando seu parceiro morre, Gilgamesh embarca em uma nova missão para obter a imortalidade,
uma busca em que acaba falhando. Ele volta para Uruk e é enterrado no local
onde o rio Eufrates parte.
Se buscarmos essa história tão
longe quanto em 2600 a.C., torna-se difícil separar a verdade do mito.
Gilgamesh aparece na Lista de Reis Sumérios, mas seu governo é posto em
exagerados 126 anos. Os reinados de seu filho e neto, no entanto, são colocados
em números bem mais realistas, de trinta e quinze anos. Evidência bíblica
também confirma a existência de figuras históricas associadas à Gilgamesh. Em
2003, uma equipe de arqueólogos mapeou digitalmente a cidade de Uruk, que agora
está enterrada sob o deserto iraquiano, e as imagens revelaram que ela era
exatamente como descrita no épico, incluindo um túmulo real no lugar de onde o
Eufrates fluía. A origem do mito de Gilgamesh pode de fato ser o próprio homem.
Grifos: Grifos são criaturas aladas com o corpo de um leão e a
cabeça de uma águia, conhecidas por guardar tesouros. Elas também são símbolos
do poder divino, e muitas vezes aparecem em emblemas. Os grifos são
representados em artes da Grécia antiga, e também da Pérsia e do Egito, datando
de 3300 a.C.
A pesquisadora Adrienne Mayor
acredita que o mito do grifo pode ser rastreado até os ossos de dinossauros
encontrados em minas de ouro no deserto de Gobi. A região das minas é tão
repleta de fósseis de protocerátopos, criaturas com bicos com um corpo do
tamanho de um leão, que muitos amadores poderiam tê-los visto. Eles eram tão
comuns na região que poderiam ser descobertos por nada mais do que o vento
soprando a areia. O paleontólogo Jack Horner, o homem que inspirou Alan Grant
de Jurassic Park, gosta dessa teoria.
Ele acha interessante que os povos antigos tenham sido capazes de deduzir a
estrutura do dinossauro melhor do que os cientistas modernos, que os imaginavam
apenas como lagartos de pele lisa.
Sirenes: Sirenes (ou sirenas) são criaturas mal-intencionadas que
aparecem como mulheres bonitas. Elas cantam músicas doces e hipnóticas que
deixam marinheiros loucos e os atraem em sua direção até que batem seu navio
contra costões rochosos. [Nota: as
sereias foram baseadas nas sirenes, mas são criaturas diferentes. Enquanto as
últimas vêm da mitologia grega, as sereias surgiram apenas na Idade Média]
No mito germânico, há uma sirene
chamada Lorelei que vive em uma pedra no rio Reno. Muitos marinheiros afirmam
ter ouvido uma mulher cantando docemente sobre a rocha e, de fato, a canção
sedutora de Lorelei não é mito – só não é uma criatura mística quem produz o
som. Os sons de uma forte corrente do rio se combinam com o ruído de uma
cachoeira nas proximidades da rocha, criando um efeito de eco que soa como uma
mulher cantando. A pedra de Lorelei também fica na parte mais estreita e mais
traiçoeira do rio, onde a corrente puxa os barcos para a costa recortada.
No conto de Jasão e os
Argonautas, Orfeu vence as sirenes tocando uma melodia mais doce em sua lira,
abafando sua música. Na vida real, a canção de Lorelei foi abafada pelo
tráfego, e só pode ser fracamente ouvida hoje.
Banshee: A banshee é um presságio de morte no folclore irlandês. É
um espírito que lamenta (tecnicamente uma fada), e que aparece se alguém está
prestes a morrer. Se vários banshees aparecem, o evento sinaliza a morte de uma
pessoa importante.
Em um funeral tradicional
irlandês, há normalmente uma mulher chamada de “keener” contratada para cantar um lamento pelo falecido. Pessoas
ricas tinham várias keeners, e lendas cresceram em torno dos clãs mais
poderosos alegando que suas keeners eram fadas. Estas keeners poderiam
supostamente sentir a morte de um membro do clã mesmo que estivessem muito
longe, fazendo com que seu lamento fosse a primeira notícia de uma morte na
família.
Quando o catolicismo dominou a
Irlanda, esse “ritual de lamento”
virou tabu e se tornou quase extinto. Como keeners e banshees tradicionalmente
têm o mesmo trabalho, é provável que o mito da banshee tenha surgido de contos
embelezados dessas cantoras fúnebres.
Behemoth: O Behemoth é um animal bíblico descrito por ninguém menos
que o próprio Deus no Livro de Jó. E provavelmente é um
hipopótamo. Frases como “o poder nos músculos
do seu ventre” e “escondido entre os
juncos no pântano. As flores de lótus o ocultam em sua sombra; os choupos pelo
rio o rodeiam” são alusões ao seu físico e seu ambiente. “Sua cauda balança como cedro” é mais
difícil de explicar se você não interpretá-la como um exagero. No entanto, o
rabo de um hipopótamo tem uma aparência de escova como uma reminiscência de um
ramo de cedro.
Deus descreve Behemoth a Jó
porque quer ilustrar seu poder. A lição é que fútil da parte de Jó
interrogá-lo, porque só ele poderia criar algo tão poderoso e, em seguida,
controlá-lo como um animal de estimação “com
um anel através de seu nariz”.
Beowulf: O poema épico anglo-saxão Beowulf é provavelmente parte
lenda, parte história. Ele fala sobre a vida do herói titular, a partir de sua
batalha contra um troll temível chamado Grendel a sua batalha contra a mãe de
Grendel, chegando a sua eventual realeza. Como rei, Beowulf luta contra um
dragão, e ambos perecem.
Ao longo do poema, Beowulf
encontra muitos reis e tribos diferentes. Personagens como Hygelac, o rei
Hrothgar e o povo de Skjöldr são geralmente aceitos pelos historiadores como
seres que realmente existiram – tanto que o épico é usado como uma fonte para
recolher mais informações sobre a Escandinávia do sexto século. Escavações em
Eadgils mostram consistência com o que está descrito em Beowulf. Quanto ao
próprio Beowulf, provas circunstanciais apontam para um local em Skalunda, que
ainda não foi investigado, como seu lugar de descanso final.
Golias: O mais famoso gigante lendário foi provavelmente Golias,
com contos dizendo que tinha 2,97 metros de altura. No início dos anos 90,
arqueólogos descobriram os ossos de um verdadeiro gigante do século III em
Roma, com altura total estimada em 2,02 metros. Isso não é nem mesmo alto o
suficiente para jogar na NBA, mas a verdade é que o verdadeiro Golias, dos
primeiros escritos, tinha apenas 2,06 metros. Sua altura foi impulsionada em
versões posteriores.
O gigante encontrado em Roma foi
o primeiro esqueleto antigo que conclusivamente possuía gigantismo, uma
condição causada pelo excesso de produção de hormônios de crescimento. A prova
encontra-se em seu crânio, onde há dano consistente com um tumor na hipófise,
que teria perturbado a glândula pituitária e causado o excesso de hormônios. A
altura de Golias pode não parecer impressionante hoje, mas a pessoa média era
bem menor na época. Quando você vê um gigante moderno como Andre Roussimoff,
não é um exagero imaginar que os povos antigos atribuíram qualidades míticas
para pessoas tão grandes.
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