3 de dezembro de 2014

Sepultamento italiano atribuído a "menina bruxa" da Idade Média

A forma como uma pessoa é enterrada por sua comunidade diz muito sobre como os outros achavam que ela vivia a sua vida. Por essa razão, costumes funerários são muitas vezes utilizados pelos antropólogos para obter uma melhor compreensão de como as civilizações antigas e as várias comunidades dentro delas funcionavam. Mesmo hoje em dia, ainda existem fortes laços entre a religião de uma pessoa em vida e os costumes de sepultamento que a seguem na morte.

Felizmente para nós, envergonhar uma pessoa na morte ou tomar medidas contra possíveis retaliações sobrenaturais é muito menos comum do que foi durante grande parte da história da humanidade. Um exemplo interessante disso é o raro “enterro de bruços”, no qual o crânio da pessoa falecida é posicionado virado para baixo em seu túmulo. O caso mais antigo conhecido do enterro de bruços foi encontrado na República Tcheca, e tem mais de 26 mil anos. O mais recente foi encontrado em um túmulo da Primeira Guerra Mundial escavado na Bélgica.

Contudo, os arqueólogos encontraram um novo exemplo deste processo – uma menina de treze anos de idade, na Itália, foi enterrada com a face para baixo em uma cova de frente para o que antes era uma igreja. Restos da menina ainda precisam ser datados em carbono, mas é estimado que ela tenha vivido em algum momento entre a Antiguidade Tardia e o início da Idade Média.

A adolescente foi desenterrada por uma equipe do Instituto Pontifício de Arqueologia Cristã do Vaticano, e o local em que ela foi encontrada fica na região costeira da Ligúria Riviera. Graças ao seu funeral, ela foi apelidada de “menina bruxa” pelos meios de comunicação italianos, e antropólogos sugerem que a comunidade tinha medo dela mesmo depois de sua morte, em decorrência de algum tipo de crença sobrenatural.

Esses enterros raros são explicados como um ato de punição. O que os mortos fizeram em vida não foi aceito pela comunidade”, explica o diretor da escavação, Stefano Roascio.

No passado, várias medidas poderiam ser tomadas para garantir que os cadáveres continuassem mortos. Dentre eles, colocar um tijolo na boca do crânio e pregar os ossos no chão. Ainda recentemente, um “túmulo de vampiro” foi desenterrado na Bulgária, contendo um esqueleto com uma estaca de ferro atravessada no seu coração.

Antropólogos sugerem que quando o crânio de um cadáver é virado para baixo em sua sepultura, significa que a comunidade não apenas pretendia humilhar o morto, mas também dificultar sua eventual ressurreição. “O enterro de bruços era ligado à crença de que a alma deixava o corpo através da boca. Enterrar os mortos com a face para baixo era uma maneira de impedir que a alma impura escapasse e ameaçasse os vivos”, afirma a antropóloga Elena Dellù, do Instituto de Arqueologia da Itália.

Em alguns casos, as vítimas deste tratamento eram enterradas enquanto ainda estavam vivas”, acrescenta Elena, mas ela diz que este não é o caso da adolescente, já que seus ossos não mostram sinais de luta. Os pesquisadores também sugerem que, apesar de muito provavelmente ter sido agredida em vida, ela não sofreu uma morte violenta. Há, porém, indícios que sugerem que ela sofria de uma estranha desordem genética do sangue ou era severamente deficiente em ferro, o que pode ter provocado hematomas e desmaios regulares suficientemente impressionantes para assustarem a comunidade.

Fontes: 01 e 02.

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